segunda-feira, 10 de maio de 2010

Vampiros – ROMANTISMO, SEXUALIDADE & SANGUE


“romantismo” é indispensável, vampiros não são zumbis e nem mortos-vivos. A história não precisa se passar nos tempos vitorianos ou na idade das trevas, no entanto realmente esperamos encontrar vampiros como homens-fatais e vampiras como mulheres-fatais. O teor dessa “fatalidade” pode variar do mais escrachado ao mais reservado. Porém, é uma zona de reconhecimento do gênero que deve ser respeitada pelos autores e artistas.
Quando falo “sexualidade” utilizo o termo no sentido mais amplo e até mesmo “Freudiano” que me é permitido. Não me refiro apenas a consumação do ato sexual. E sim a todo afeto e suas variâncias envolvidos na ambientação e nos personagens. Seja um Vampiro ou uma Vampira, seus dentes compridos estão lá para perfurarem e penetrarem seus alvos e vítimas. A metáfora é óbvia. E como diria o bom Lestat: "Não se envergonhe do que você é! Você é um Vampiro, Louie!"
O terceiro elemento na produção cultural vampiresca é o “sangue”. Quando falo em sangue, não falo do “splatter” e sim de sabor, de aroma, de ambientação, de textura, de espírito e presença na obra – capaz de emocionar e deixar marcas indeléveis em quem assistiu ou apreciou determinada obra.
 
 
Vejo tudo isso em True Blood.


Para quem não conhece, True Blood é uma série de TV dramática estadunidense criada por Alan Ball, baseada na série de livros Southern Vampires da americana Charlaine Harris. Fala sobre a co-existência de vampiros e humanos em "Bon Temps", uma pequena cidade fictícia localizada no Louisiana. A série é focada em Sookie Stackhouse (interpretada por Anna Paquin), uma garçonete telepata que se apaixona pelo vampiro Bill Compton (por Stephen Moyer).
SIM, mais uma série sobre vampiros, estes personagens fantásticos que escritores e roteiristas das mais variadas épocas e mídias adoram explorar dramaturgicamente. Da literatura aos quadrinhos, da TV ao cinema, a lista de produtos envolvendo estes mortos-vivos é grande. Tanto que dei de ombros quando ouvi falar sobre mais uma série sobre vampiros, por achar que não havia mais ângulos a explorar.
O argumento de “True Blood”, porém, me surpreendeu. Aqui os vampiros “saem do armário” (digo, do caixão) e passam a conviver entre humanos após terem seus direitos civis assegurados por lei, mas sob a condição de deixarem de matar para se alimentar. Isto se torna possível com a produção, em escala industrial, da bebida Tru-Blood, espécie de sangue artificial que supre as necessidades alimentares dos vampiros.


Este fator “impróprio-para-menores”, por sinal, é uma das características mais marcantes da série, pois é muito raro ver alguém que tenha tamanha liberdade em explorar o vampirismo como metáfora para obsessão sexual e seus perigos. Em True Blood, os vampiros são sexualmente insasciáveis, possuem o poder de hipnotizar uma pessoa com o olhar, seu sangue é um afrodisíaco se bebido por humanos, e são os melhores parceiros sexuais que há. Mordidas durante o sexo, inclusive, tornam a experiência mais intensa, deixando explíto a metáfora onde o beijo do vampiro, em si, é um ato sexual. No entanto, o vampiro que come alguém, figurativamente, é o vampiro que pode comer essa pessoa, literalmente. A metáfora sexual do vampiro, portanto, remete ao sexo auto-destrutivo, institivamente irresponsável.
Usar o vampirismo nesse sentido não é novo, e até mesmo Twilight, em toda sua inocência, metaforiza a erupção hormonal adolescente como um desejo de sangue. O vampiro passou a ser uma metáfora para o “parceiro sexual definitivo” uma vez que começou a ser abordado como um ser galante e conquistador. Não sei dizer quando isso aconteceu, mas Anne Rice tem uma grande parcela de responsabilidade na popularização desse modelo.
Quando se pensa que trata mais de sexo, surpreende com um romance denso; enquanto em um núcleo costura uma aventura bem amarrada, no outro equilibra referências super atuais de ódio e incompreensão social. E agora surpreende de novo com personagens que instigam questionamentos filosóficos sobre co-existência neste mundo louco.


Respeite seus vampiros!

Mas usar o vampiro simplesmente nesse sentido seria desperdiçar seu potencial. Até hoje, vampiros já foram usados para representar a dominação burguesa (Drácula, Nosferatu), dependência química (Buffy, Angel), relação natureza vs. experiência com relação à moral (Buffy, Angel, Twilight, True Blood, Moonlight, Supernatural, etc. Qualquer ficção que tenha algum vampiro do bem), rebeldia sem-causa adolescente (Buffy, Garotos Perdidos), e de várias outras formas, mas eu não me recordo de ter visto uma metáfora que usasse os vampiros para representar discriminação social, e esse é outro ponto de brilhantismo de True Blood.
Existem até mesmo sites fictícios, acompanhando a campanha para a inclusão social dos vampiros. Bill, o vampiro (não tão) bonzinho da história, possui um caráter ambíguo mas já provou sua vontade de ser socialmente aceito, de preservar uma humanidade que, técnicamente, ele não tem mais. Seu amor por Sookie, a mocinha da história, já se provou honesto e profundo, portanto o que o separa de um ser humano são fatores superficiais, fisiológicos. Ele não é o único assim, e o fato dos vampiros não terem sido oprimidos ou caçados ou exterminados prova que a população está, no mínimo, disposta a dar o privilégio da dúvida a eles. Bom se eu encontrasse um Edward Cullen ou um Bill eu dária e vc?

Portanto, apesar do que alguns podem pensar, True Blood está longe de ser uma descarada jogada comercial de fazer uma série que plageasse o maior sucesso de vendas atualmente, Twilight. Até porque esta é uma saga infanto-juvenil, enquanto a série de Alan Ball é imprópria para menores de idade, e baseada em uma série literária muito anterior a Twilight (a série Southern Vampire, de Charlaine Harris).
 

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